quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UMA CULTURA ABERTA À CIDADE

No mundo fragmentado dos Gregos, é a cultura que assegura a unidade: a mesma língua, os mesmos deuses, os mesmos santuários, a mesma forma de vida unem o que a política separa. Os Gregos têm consciência dessa unidade espiritual. Chamam-se a si próprios Helenos. Todos os outros povos são bárbaros, quer pertençam ao civilizado Egipto, quer a uma tribo semi-selvagem da Trácia. O Mundo está, pois, dividido em duas partes distintas: uma é grega; a outra não. Esta identidade cultural, que resiste a todos os conflitos, é constantemente renovada pelas incessantes viagens, de uma cidade para outra, de poetas, pensadores, artistas ou peregrinos a caminho de um santuário. Destacada no mundo grego, Atenas não é só escola política. É também escola de cultura. O desafogo económico em que vive e a abertura democrática das suas instituições permitem-lhe atrair os melhores artistas, organizar os espectáculos mais sumptuosos, cultivar a filosofia e o teatro.
 
AS GRANDES MANIFESTAÇÕES CÍVICO-RELIGIOSAS

A religião desempenhou um papel fundamental na vida dos Gregos e contribuiu fortemente para a sua identidade cultural. No dia-a-dia, dentro dos limites da cidade ou, mais espaçadamente, num santuário longínquo, os Gregos não negligenciavam nunca a obrigação de venerar os deuses, fazendo-o das mais variadas formas:

O culto cívico

Embora em toda a Grécia se adorassem as mesmas divindades, cada pólis tinha os seus cultos privados, venerando, em especial, os deuses protectores da cidade, caso da deusa Atena, Atena Polias, “Atena, a protectora da cidade”. As Pan-Ateneias eram festividades celebradas, no século V a. C., com um luxo extraordinário, custeado pelos cidadãos mais ricos. lnicialmente confinadas à cidade, as festas em honra da deusa Atena foram, a partir de 566 a. C., abertas a todos os Gregos, o que lhes conferiu um carácter pan-helénico. Intercaladas com festividades mais modestas, as Grandes Pan-Ateneias realizavam-se de quatro em quatro anos, no Verão, e duravam mais de duas semanas. Durante esse tempo, a deusa era honrada com concursos musicais, danças e provas desportivas que culminavam numa enorme procissão, em que a cidade presenteava a deusa Atena com um novo peplo, tecido e bordado pelas donzelas das melhores famílias.
 
Os jogos

A crença nos mesmos deuses originou
 pontos de referência religiosa, lugares sagrados onde convergiam peregrinos de toda a Hélade. Embora existissem numerosos santuários, os mais famosos eram o de Delfos, o de Olímpia, o de Nemeia e o de Corinto. Em todos se realizavam, periodicamente, competições artístico-desportivas de carácter religioso que atraíam multidões: os jogos. Os jogos eram uma forma de devoção tipicamente grega. O esforço dos atletas era considerado uma homenagem prestada aos deuses, que mostravam as suas preferências “escolhendo” o vencedor.
Mas os mais famosos de todos os festivais pan-helénicos eram os que se realizavam, de quatro em quatro anos, em honra de Zeus, no santuário de Olímpia. Eram, segundo a tradição, os mais antigos de todos, datando de 776 a. C., ano utilizado, mais tarde, para estabelecer o calendário grego. Na altura da sua realização proclamavam-se tréguas sagradas que interrompiam os conflitos locais em toda a Grécia. Para além das cerimónias religiosas celebradas no templo de Zeus, eram as provas desportivas que atraíam atletas e peregrinos. Apenas os homens e os adolescentes livres, de pura ascendência grega, podiam participar nas competições olímpicas, o que se explica pelo carácter sagrado das festividades que exigiam aos atletas a comunhão dos mesmos valores cívicos e religiosos. Quanto aos espectadores, podiam ser bárbaros, escravos ou raparigas solteiras; mas as mulheres casadas nem sequer podiam entrar no recinto das festas. O prémio atribuído aos vencedores resumia-se a uma coroa de ramos de oliveira brava. Era, porém, uma coroa de glória, já que as respectivas vitórias eram perpetuadas na poesia, na pintura e na escultura, o que os fazia ascender à categoria de heróis e usufruir de honras múltiplas, aquando do regresso à sua cidade. Enquanto duravam as variadas provas e cerimónias, Olímpia era palco de uma grande movimentação que não só envolvia os atletas e peregrinos, como também comerciantes de alimentos e ex-votos, filósofos, retóricos, poetas e escritores, que aí davam provas do seu talento e procuravam recrutar novos discípulos.
 
 
A ARQUITECTURA E A ESCULTURA, EXPRESSÃO DO CULTO PÚBLICO E DA PROCURA DA HARMONIA

A arquitectura

A arquitectura grega é essencialmente uma arquitectura religiosa. Embora construíssem casas, edifícios públicos ou muralhas, os Gregos reservavam para os templos os projectos mais minuciosos e os materiais mais ricos, geralmente o mármore. Apesar de se encontrarem em ruínas, os templos gregos continuam a transmitir, a quem os vê, a proporção e a harmonia que, segundo o espírito clássico, distinguiam as coisas belas. O que primeiro nos chama a atenção nos templos é a singeleza das suas linhas. Os Gregos não desconheciam o arco mas, nos seus edifícios, raramente utilizaram linhas curvas. Construíram a partir do sistema trilítico, isto é, dois suportes verticais (as colunas) unidos por uma laje horizontal (a arquitrave). Esta base construtiva, extremamente racional, dá aos templos uma grande simplicidade, embora saibamos que eles eram pensados até ao mais ínfimo pormenor.
Na Grécia, a arquitectura era uma arte de números, à qual só as regras matemáticas podiam garantir a perfeição. Esta ideia levou à criação de ordens arquitectónicas, que definiam as medidas exactas de cada um dos elementos do edifício.
 
A beleza ideal

"Quando copiares tipos de beleza ser-te-á tão difícil encontrares um modelo perfeito que terás de combinar os detalhes mais perfeitos de vários modelos e só assim alcançarás a beleza do conjunto. 
 
Xenofonte, Memórias

"A beleza está, não na proporção dos elementos, mas sim na das partes, isto é, do dedo para o dedo, e de todos os dedos para a palma da mão, e destes em relação ao antebraço, e do antebraço em relação ao braço, e de todas as partes em relação a cada uma delas."
Policleto, O Cânone
 
A escultura

Também na escultura a procura da beleza física ideal estava bem de acordo com o espírito grego, que sempre valorizou o corpo humano e sempre buscou a perfeição. Por isso, encontramo-la praticamente em todas as obras escultóricas, quer representem deuses, jovens atletas ou personalidades insignes da política ou da cultura. Embora, no último caso, se respeitassem os traços fisionómicos do retratado, procurava-se sempre retocar-lhe as imperfeições e dar ao rosto uma expressão serena e contemplativa. Por tudo isto, dizemos que a escultura grega é idealista. Este idealismo escultórico conduziu os artistas à procura da fórmula exacta da beleza. Encontraram-na, à semelhança do que aconteceu na arquitectura, no rigor das proporções. Foi Policleto quem as definiu, estabelecendo o cânone, que aplicou na execução das suas obras, nomeadamente no Doríforo, escultura muito apreciada pelos contemporâneos e que representava um jovem concorrente ao lançamento do dardo, constituindo uma obra-prima de naturalidade e movimento.
 
A cerâmica
 
Embora não tenham chegado até nós as grandes obras da pintura grega, podemos avaliá-la pelos vasos de cerâmica, destinados à vida de todos os dias. Em Atenas, todo um bairro se chamava “o cerâmico” e aí se produziam autênticas obras de arte que eram exportadas para o mundo mediterrânico. Ao olharmos a cerâmica grega, seja uma simples taça de vinho ou um vaso funerário, torna-se clara a velha máxima que diz que, para os Gregos, até as coisas úteis tinham de ser belas!
 

A Sociedade de Atenas

                                       
                                              


A sociedade ateniense era constituída por três grupos bem dis­tintos :

os cidadãos, homens livres, com mais de 18 anos, filhos de pai e mãe atenienses. Eram os únicos a possuir terras na Ática. Só eles tinham direitos políticos, participando nas assembleias, conselhos e tribunais. Constituiam uma minoria da população, cerca de 10% em meados do século V a. C.

os metecos, estrangeiros que viviam na cidade-estado de Atenas. Eram homens livres, mas sem direitos políticos, estavam sujeitos ao serviço militar e ao pagamento de impostos. Dedicavam-se ao comér­cio e ao artesanato. Excepcionalmente, podiam tornar-se cidadãos;

os escravos, homens não-livres, ocupados em tarefas variadas como a agricultura, artesanato, comércio, trabalhos domésticos. Eram prisioneiros de guerra ou pessoas raptadas por piratas. Cons­tituíam cerca de 1/3 da população .

Assim, a sociedade ateniense era dominada por uma minoria - os cidadãos, os únicos que tinham direitos políticos. Estes direitos eram exercidos nos órgãos de poder e nos lugares públicos, como a Ágora . Contudo, a grande maioria - mulheres, metecos e escravos ­não participava na vida política.
 
 

Economia de Atenas

                                       


  • Como a terra não era farta ( 80% era solo montanhoso) desenvolveram uma rica economia mercantil e marítima, com a prática do comércio a longa distância. O grande comércio era feito através do porto de Pireu, por onde exportavam vinhos, azeite, armas e produtos do seu artesanato ( que estava muito desenvolvido) e importavam bens alimentares (trigo) metais e objectos de luxo. O poderio económico da cidade apoiava-se, ainda, numa grande e bem armada frota naval e numa forte moeda, o dracma .
                               
                                        Actividade comercial no porto de Pireu


                               
                                                      Trirreme Grega

A Acrópole de Atenas

                 
                   
                                          Acrópole em finais do séc. XIX 



  • Situada na parte alta da cidade de Atenas a Acrópole dominava a parte baixa ou Asty. Na Acrópole foram construídos 
  • templos e outros edifícios que fizeram a sua beleza e glória como o Parténon, o Erecthéion, o templo de Atena Niké 
  • entre outros. O arranjo da Acrópole foi concebido e dirigido por Péricles e executado em grande parte pelo escultor 
  • Fídias na segunda metade do sé. V a. c., entre 447 e 432.
  • Dominando toda a Acrópole , o Parténon é um dos mais belos exemplares da arquitectura grega clássica.

                        
                                         Acrópole (Reconstituição)








                        
                                   A Acrópole de Atenas (Visão idealizada)

  • Atenas, a mais importante cidade-estado grega do século V a. c., ficava situada na Ática. Apesar do solo da Ática ser pobre, a agricul­tura e a pecuária ocupavam a maior parte dos atenienses que viviam do cultivo do trigo, cevada, vinho e, sobretudo, do azeite . Em volta da cida­de, cultivavam-se produtos agrícolas e, nas montanhas criava-se o gado, especialmente, cabras e carneiros.
  • O artesanato estava muito desenvolvido. Os artesãos fabricavam vasos cerâmicos, estátuas, armas, navios. Para a sua confecção explora­vam o barro, o mármore, a madeira e os minérios. Mas, Atenas tinha falta de cereais e de matérias-primas para o artesanato.

A Ágora

 
  • A Ágora era uma praça, a praça principal da pólis, a cidade-estado grega da Antiguidade clássica. A Ágora manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública , sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convive com o outro, onde ocorrem as discussões políticas e os tribunais dos cidadãos se reunem: é, portanto, o espaço por execelência do exercício da cidadania. Por este motivo, a Ágora (juntamente com a Pnyx, o espaço de realização das assembleias) era considerada um símbolo da democracia directa, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto.

Os órgãos de poder e as limitações do regime democrático


  • Na cidade-estado de Atenas, os órgãos de poder eram os seguin­tes :


  • Assembleia do Povo ou Eclésia, constituída por todos os cidadãos, que aprovava as leis, decidia da paz ou da guerra, elegia as magistratu­ras mais importantes e votava o ostracismo;
 
  • Bulé, conselho permanente de 500 cidadãos, sorteados entre as tri­bos (50 por tribo), que elaborava as leis a aprovar pela Eclésia;
 
  • Helieu, tribunal composto por 6000 cidadãos, que julgava os casos de não cumprimento das leis da cidade.
 
  • Para além destes órgãos de poder, distinguiam-se como dirigentes políticos osarcontes e os estrategos.
 
Assim, o regime democrático trouxe importantes inovações:
 
  • preen­chimento dos cargos políticos através de eleições ou por sorteio
  • duração limitada desses cargos
  • participação dos cidadãos na vida política.

  • democracia ateniense tinha, contudo, as suas limitações. Na ver­dade, só os cidadãos atenienses, cerca de 10% da população, participa­vam na vida política (as mulheres e os filhos dos cidadãos, os metecos e os escravos estavam dela excluídos). A existência de escravos, o imperialismo de Atenas em relação às outras cidades da Liga de Delos e a Lei do Ostracismo são também consideradas como “imperfeições” da democracia ateniense. No entanto, apesar das suas imperfeições, o regime político de Atenas foi seguido em muitas cidades gregas e serviu de modelo às democracias modernas.

A Democracia em Atenas

Sólon






  • Atenas, como as demais cidades gregas, foi até ao Séc. V a.c. gover­nada por reis (monarquia), nobreza (oligarquia) e por tiranos (tirania). Con­tudo, no século V a. c., estabeleceu-se na cidade-estado de Atenas uma forma de governo diferente das restantes - o regime democrático.
  • Para o estabelecimento deste novo regime político e social foi fundamental a acção de três legisladores - Sólon (c. 640-c. 560 a. c.), Clístenes (508-462 a. C) e Péricles (462-429 a. C). Entre as medidas que tomaram, destacam-se as seguintes:



  • Sólon- Redacção de leis iguais para todos os homens livres e fim da escra­vidão por dívidas

  • Clístenes- Divisão da Península da Ática em 100 demos, agrupados em 10 tri­bos; cada tribo, onde todos eram iguais, elegia anualmente os cida­dãos para os vários órgãos do governo da cidade. Procurava-se, assim, evitar que os ricos dominassem a vida política
  • Péricles- Concessão de salários a todos os cidadãos que fossem designados para cargos públicos; desta forma, todos, incluindo os cidadãos mais pobres, podiam participar na vida política.
Assuntos tratados no blog: 

O Partenon

  •  



  • Partenon é um símbolo duradouro da Grécia e da democracia, e é visto como um dos maiores monumentos culturais do mundo. O nome Partenon parece derivar da monumental estátua de Atena Partenos abrigada no salão leste da construção. Foi esculpida em marfim e ouro por Fídias e seu epíteto ‘’parthenos’’ (παρθένος — "virgem") refere-se ao estado virginal e solteiro da deusa. O Partenon foi construído para substituir um antigo templo destruído por uma invasão dos persas em 480 a.c

Partenon (Reconstituição)